segunda-feira, janeiro 14, 2008

Só por um extraordinário acaso...

...se poderá acertar; temos todas as possibilidades de tomar uma decisão errada; a sorte da moeda ainda deve talvez ser a melhor, porque, pelo menos, suprime do sistema, já complexo, um elemento que pode perturbar: o da nossa vontade.
Se isto é assim, não haverá objectivo a atingir: seremos como a macieira que daria maçãs, mesmo que ninguém lhas comesse; que a última razão dos nossos actos não deve ser a de um alvo, mas a de uma existência.
O espírito é finalista, tem ideias; abre-se aqui um conflito, senão entre a estrutura, pelo menos entre o aspecto do espírito e o aspecto do real: o 1º põe objectivos, o 2º apresenta consequências.
QUEM FALA DE AMOR NÃO AMA VERDADEIRAMENTE: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja a realizar uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos 4 ventos; quando se ama, em silêncio se ama: às vezes o sabe a mulher amada, mas creio até que num amor que fosse pleno, em que nada entrasse das preocupações da terra, nem ela o saberia.
Não é quando se está em transe de amor, o único momento em que verdadeiramente se ama, que se escreve ou se compõe ou se pinta: é depois, quando o amor se abateu, quando reina o artista, quando é só em todo o campo, e há do amor apenas a lembrança, quase uma reminiscência platónica, no sentido de que foi uma experiência que nos excedeu e de que só poderemos recordar fragmentos e talvez o que menos valha.
Parece-me que ao verdadeiro amor corresponde o silêncio; a perfeita vibração diante de uma flor ou de um pôr-do-sol ou de uma libélula sobre as água de uma ribeira ou, o que mais vale, diante de uma mulher, traz consigo uma inibição de todas as funções de relação; não se diz nada à rosa, não se diz nada à mulher...
Os mais fortes encerram-se num palácio de silêncio.

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baby